Por: Diego El Khouri
Mais uma interessante entrevista nesse blog que visa devassar a cultura, enriquecer nosso olhar, fortalecer a cena artística e criar um painel de produção contemporânea. Nessa busca conheci o trabalho do artista Omar Khouri. Temos o mesmo sobrenome e também somos descendentes de libaneses. Segue abaixo esse bate papo.
"Nasceu em Pirajuí (SP. Brasil) em 1948. É Mestre e Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, e Livre-Docente em "Teoria e Crítica da Arte", pelo IA-UNESP. Poeta, editor (Nomuque Edições), promotor de eventos, impressor e crítico ocasional de linguagens. Veiculou seus poemas em publicações coletivas, como Artéria, Zero à Esquerda, Qorpo Estranho, Muda, Caspa, Kataloki, Atlas, Errática e outras. Tem participado de inúmeras exposições de Poesia Visual, no Brasil e em outros países. Atualmente, ocupa-se de um projeto experimental de prosa, donde resultaram vários volumes, já publicados. Vive e trabalha em São Paulo, como professor."
1) Você se dedicou à pintura até os 26 anos de idade. Depois mergulhou profundamente na
poesia (principalmente a dos modernistas), encaminhando enfim para uma poesia que, "em
boa parte, derivava da Poesia Concreta." No encalço da palavra, a Poesia Visual ("que nos
anos 70 a chamavam Intersemiótica") teve um tremendo impacto em sua vida. Nos fale desse
início na poesia e como se dá o seu processo de construção literária dentro dessas linguagens
e como tais "construções" te influenciam e te constroem como escritor.
Desde a infância, dediquei-me à pintura e pensava ser esse o meu destino (ainda amo
sobremaneira a pintura, sendo eu uma espécie de “rato de museu”). Porém, as coisas da
poesia, na adolescência, começaram a me atrair e minhas leituras, bastante diversificadas,
passaram a incluí-la e com muito relevo. Sou do Interior do Estado de São Paulo, Pirajuí,
cidade que contava com escolas estaduais muito boas, e estudei sempre em escolas do Estado,
onde havia altas discussões, já no Colegial, com colegas e professores – parece que tínhamos,
de fato, ambição intelectual e artística, naquele meio. Tivemos grandes professores: de
Desenho, Português, História, Geografia, Inglês etc. Por outro lado, eu me tornei amigo de
Paulo Miranda, uma espécie de menino prodígio, uma inteligência brilhante e um talento
extraordinário para a poesia, um leitor contumaz da melhor literatura produzida em Língua
Portuguesa e também da produzida no mundo anglófono (seu inglês foi aperfeiçoado durante
uma estada por um ano nos Estados Unidos, ainda adolescente). Aprendi muito com Paulo
Miranda, como continuo a aprender. Bem, ainda no Colegial, cheguei a ler toda a obra poética
de Manuel Bandeira e Oswald de Andrade e de outros modernistas, além de poesia de outros
tempos. Na mesma época, tive os primeiros contatos com Fernando Pessoa, Drummond e
João Cabral, além de Cassiano Ricardo, que nos parecia um poeta de ponta. Quando Paulo
voltou dos EUA, em meados de 1968, veio falando com entusiasmo de um certo Ezra Pound,
que logo me atraiu e em cuja obra fui adentrando um pouco depois. Ainda em Pirajuí, os
primeiros toques de Poesia Concreta (o poema ‘Organismo’, na revista Invenção 5), notícias
de Décio Pignatari, que lecionava em Marília. Transferi-me para São Paulo, que eu já bem
conhecia, em 1970, para estudar História, na USP, onde me formei. Marcante para mim foi a
leitura do Contracomunicação, do Décio Pignatari, em 1971-72. Em pouquíssimo tempo, o
espanto pela teoria transformou-se em admiração pela Poesia Concreta (era praticamente
impossível encontrar algum livro que trouxesse poemas do Concretismo – não havia edições
comerciais daquela poesia). Descobri, na Faculdade de História, o Panaroma do Finnegans
Wake, dos Campos e Joyce, por meio de um colega. Daí, as coisas foram tomando corpo.
Sempre estive ligado a Pirajuí (em 47 anos de residência em São Paulo, estive mais de 600
vezes na minha cidade). Ainda em 1973, fiz meu 1º e último trabalho pictórico de fôlego:
pintei as 14 estações da Via Sacra em 28 quadros, que traziam alguma influência dos
Quadrinhos e da Arte Pop – imagem e texto. Em 1974, pintei um último quadro que, como
outros dos últimos 6 anos, trazia palavras integradas à pintura e concebi e publiquei meu 1º
livro de poemas + ou – concretos: Jogos e fazimentos (53 exemplares em reprografia – uma
máquina da 3M – com encadernação caseira). Daí, com essa motivação, conheci
pessoalmente os irmãos Figueiredo (Luiz Antônio, Carlos e José Luiz), Augusto de Campos,
Décio Pignatari, Edgard Braga, Haroldo de Campos, Ronaldo Azeredo, José Lino Grünewald
e, bem mais tarde, Pedro Xisto de Carvalho. Muito mais tarde, vim a conhecer o poeta
experimental português E. M. de Melo e Castro, que reside atualmente em São Paulo. Artéria
acontecerá em 1975, mas começou a ser pensada em 1974. As ideias, para mim, surgem
isoladas ou em série e procuro registrá-las imediatamente – as ideias vão e vêm, mas nunca
retornam do mesmo modo, daí a necessidade de um primeiro registro que, quase sempre,
depois destruo. Às vezes, um trabalho é feito por sugestão de alguém: vejo-me forçado a ter
ideias e elas surgem (é claro que a partir do repertório que possuo). Já fiz poemas por
solicitação de amigos. O meu livro de peças porno-eróticas Poemas: sob a égide de Eros
brotou, saiu aos jorros, como numa ejaculação de jovem. Às vezes, trabalho a partir de uma
ideia registrada há mais de 3 ou de 30 anos!
2) A docência é a atividade profissional que exerce desde os anos 70. Como enxerga esse
processo político que estamos passando e de que forma trabalhar o poder da educação no
intuito de conscientizar a população para enfim uma possível emancipação do ser?
A aula é um espaço de conscientização, nem sempre com plena consciência de quem a
ministra, e o trabalho não é fácil para o professor, que precisa adequar o repertório para que
seja inteligível a sua mensagem, e deve dosar para não sufocar o alunado com excesso de
realidade palpável, principalmente crianças e adolescentes (com quem trabalhei 25 anos,
quase-sempre na escola pública). Deve, portanto, ser a escola, a sala-de-aula, um espaço de
liberdade. Nem diria “emancipação do ser”, mas um aprendizado de crítica e reivindicação.
Todos sabemos que somente por meio da Educação a população brasileira (ou de qualquer
outro país) poderá dar grandes passos, e a sociedade, portanto, ser aperfeiçoada (a elevação
do repertório geral da população resulta em atitudes críticas e reivindicatórias). O magistério,
para mim, não foi um encargo, mas uma opção e trabalhei sempre com muito gosto. Os
sucessivos governos parecem não ter compreendido – por meio de medidas eficazes – o papel
fundamental da Educação. Deixei o Ensino Fundamental e o Médio, depois de muita luta
inglória: chegamos a ter 18 greves em 20 anos! Sempre acreditei no meu papel de professor e,
mesmo já tendo um repertório alto e amplo, com relação às Artes, continuei com o Ensino de
1º Grau, que é como era chamado o Ensino Fundamental. Daí que meus amigos me
respeitavam, mas palpitavam: Samira Chalhub, professora universitária e psicanalista, disseme
que eu teria de objetivar melhor a minha vida, enveredando pelo Ensino Superior, e me
deu muita força para isto; Décio Pignatari chamou a mim e a outros poucos amigos
professores de “Seus aristocratas de subúrbio!”, pois, já deveríamos estar cursando uma PósGraduação.
Fui para a Pós em Comunicação e Semiótica, na PUC-SP, fiz Mestrado e
Doutorado e, como aluno, foi aquela a melhor época de minha vida. O Brasil estará melhor
quando a totalidade (ou quase) da população adulta tiver, pelo menos, o Ensino Médio
completo. É sempre possível passar boas coisas aos alunos, contribuir para seu
aperfeiçoamento enquanto indivíduos e enquanto seres atuantes numa sociedade.
3) Você é cofundador da Nomuque Edições, que existe desde 1974, e coeditor da revista
ARTÉRIA (http://www.nomuque.net ). Nos fale sobre esses trabalhos, qual intuito e como
se dá a divulgação.
A Nomuque Edições nasceu em Pirajuí, no ano de 1974 (formado e desempregado, voltei à
casa da mãe e fui trabalhar como balconista na loja de meus irmãos, aí permanecendo por
quase 2 anos), a partir de conversas que tive com Paulo Miranda, que residia em São Paulo,
mas que ia muito a Pirajuí, em função da família. O propósito era publicar primeiramente
coisas nossas – meu primeiro livro Jogos e fazimentos já estava quase pronto e havia,
também, outros projetos. Ter a própria editora evitava o vexame de procurar editor. No
mesmo ano, veio a ideia de Artéria, que ficaria pronta (o número 1), em julho de 1975,
possibilitada pela participação dos irmãos Figueiredo, da vizinha cidade de Presidente Alves
(Luiz Antônio, Carlos e José Luiz). Em Artéria 1, já estavam presentes os irmãos Campos e
Décio Pignatari (este, havia sido professor de Luiz Antônio de Figueiredo, anos 1960, na
Faculdade de Letras, em Marília. Luiz conhecia, também, Augusto e Haroldo de Campos,
Ronaldo Azeredo). A ideia de uma publicação coletiva sempre nos fascinou: daí, Artéria que,
com suas idas e vindas, permanece viva até os dias de hoje. A distribuição de edições é
trabalho difícil se não se conta com uma empresa distribuidora. É aí que entra o boca-a-boca,
o de-mão-em-mão, consignação em livrarias, correio etc. Via de regra, não há retorno
financeiro satisfatório nesse tipo de publicação e os maiores encargos acabam ficando sob a
responsabilidade de 2 ou 3 dos envolvidos na coisa (se tanto). Mas, a satisfação em fazer é o
que vale. Revistas experimentais começaram a brotar - em 1974: Código, Polem, Navilouca e
1975: Artéria, Poesia em Greve… A Nomuque nunca pôde contar com patrocínios e publicou
pouco, mas coisas mais-que-interessantes, e persiste.
4) 14 de Maio a 17 de Julho (2016) na Caixa Cultural SP aconteceu a exposição em
comemoração aos 40 anos da revista Artéria. "Mais de 60 trabalhos, entre serigrafias, objetos,
vídeos e outras plataformas." Você e o poeta Paulo Miranda, foram os curadores da mostra.
Nos dê um retrato visual dessa exposição.
Poderia até enviar-lhe fotos da mostra. Sim, eu e Paulo Miranda fomos os curadores, porque
éramos (somos) os editores de Artéria. Porém, o projeto de exposição foi elaborado pelo
pessoal do Espaço Líquido: Bruna Callegari e Rafael Buosi foram os responsáveis pela
organização e pela montagem da Exposição ARTÉRIA 40 ANOS. Antes de São Paulo, a
mostra aconteceu na Caixa Cultural do Rio de Janeiro (out-nov. 2015). Houve catálogos,
sendo o de São Paulo o mais completo (deve estar em pdf, na Rede). Muitos poemas foram
ampliados e outros expostos em sua versão original. Artéria teve 2 números totalmente feitos
em serigrafia, pela equipe (não-remunerada) da Nomuque Edições: 5 e 6 e, antes, em Zero à
Esquerda, os trabalhos serigráficos predominaram (acabamos por nos tornar, também,
gráficos na prática, aprendendo serigrafia etc).
5) Em 2013 você ministrou a palestra "Poesia e Visualidade: Uma aproximação". Nela
pretendia expor as relações entre poesia e visualidade por meio de análise de 30 importantes
poemas visuais, abrangendo desde Oswald de Andrade a Villari Hermmann. Como foi a
escolha desses poetas e como trabalhar com imagem em tempos cada vez mais reacionários e
segregadores?
Acho que os tempos são agora menos reacionários e segregadores que há 50 ou 60 anos, só
que os reacionários, que são minoria (os conservadores são maioria), conseguem falar alto e
são truculentos e, se encontrarem terreno propício, proliferam. A segregação já foi pior, mas a
sociedade ainda tem muito o que aprender. O chocante acontece quando assistimos a atitudes
moralistas numa época em que imaginávamos que tal moralismo estivesse morto e enterrado.
A sessão que cassou a Presidente do Brasil, foi de uma desfaçatez cósmica, uma vergonha
para o País - as declarações, em 95%, foram vexaminosas. Assistimos, hoje, a atitudes
reacionárias ligadas a moralismos que não deveriam ter mais voz nem vez em nossa
sociedade. É preciso combater esse tipo de atitude, principalmente nós, artistas.
Os critérios de escolha dos poetas/poemas que ilustraram minha fala, naquela ocasião, foram
o rigor e o uso substantivo da visualidade em poemas: tanto a visualidade ela-mesma (gráfica,
cromática), como aquela evocada pelas palavras (a Fanopeia, como a apresentou teórica e
praticamente Ezra Pound). Os poemas constantes de minha exposição oral privilegiavam a
invenção.
6) Allen Ginsberg dizia que "o futuro é a ditadura do rosto humano". Vivemos num constante
processo de mecanização do individuo em detrimento a coletividade. A sociedade,
massificada e atrelada ao medo, sofre a alienação desde a base e o ensino é sabotado
justamente para facilitar esse "domínio do pensamento". Ainda assim continuar acreditando
na poesia?
A Humanidade não tem conserto, mas sobreviverá – daí o nosso esforço para ao menos
melhorá-la. Toda projeção para o futuro equivalerá a um “erro na mosca” (Paulo Miranda). A
Arte não salva o Mundo mas pode auxiliar na educação de sensibilidades, pode melhorar as
pessoas. Filosofia alguma pode vir a significar a redenção dos Humanos – de gregos a
alemães - mas da mesma forma que a Arte, pode tornar (ou não) as pessoas melhores, a partir
de um exercício pensamental complexo e profundo. Apesar das coisas a que assistimos, ainda
temos (nós: eu e você, Diego) recursos materiais e de pensamento que nos instrumentalizam
para que exerçamos a crítica da situação. No Brasil, os problemas se eternizam: o País dá três
passos para a frente e dois para trás! Décio Pignatari, com quem tive o prazer e o privilégio de
conviver por mais de 30 anos (nos anos 70 e 80 eram muito comuns os encontros com os
poetas concretos históricos em bares, na PUC, em eventos culturais, em casas de pessoas,
como a de Samira Chalhub. A casa de Augusto de Campos esteve sempre aberta aos jovens
poetas e artistas em geral), era muito otimista com relação ao futuro do Brasil, porém, nos
últimos anos, o seu otimismo já havia arrefecido. Décio morreu em dezembro de 2012,
estando há cerca de 2 anos com a memória comprometida – faz muita falta, com suas tiradas
geniais e seus paradoxos e acertos. A Arte (qualquer que seja a modalidade em que ela se
corporifique) é uma necessidade dos Humanos, responde a uma necessidade de caráter
psíquico. O mundo poderá estar desabando, a Arte se manifestará nas brechas. Sempre haverá
lugar e tempo para a Poesia. A Esperança da Humanidade não conduz à Paz e à Concórdia,
mas à Sobrevivência, com todas asa suas mazelas.
7) O que anda lendo ultimamente?
Ultimamente, tenho lido pouco as coisas novas, pois as obrigações profissionais e outras têm me
tomado muito tempo (embora já pudesse tê-lo feito, ainda não me aposentei). Tenho mais
relido coisas por necessidades profissionais ou por puro prazer. O alunado coloca questões e
isto me motiva a reler, mais do que ler pela primeira vez. Leio mais teorias da arte e poesia
em geral. Alunos, às vezes, citam obras que ainda não li, procuro fazê-lo sem perda de tempo.
Por outro lado, a solicitação para Bancas de TCC, Mestrado e Doutorado consomem muito do
meu tempo com leituras, que nem sempre são as que eu gostaria de fazer. Biografias têm-me
atraído: tanto as escritas há tempos como as que estão saindo agora.
8) Você é Descendente de libanês. Khouri significa "sacerdote"/"padre" em árabe, tendo
origem na palavra latina "cura". De que forma essa cultura oriental influencia sua produção
artística e como vê a questão da Palestina?
O nosso Khouri é assim pela transliteração francesa, pois há Cury etc, que é o mesmo nome
de família e significa, mesmo, “padre” – acho que nada tem a ver com o Latim (cura). O “kh”
dá conta da aspiração, que há em árabe. Meu pai era libanês (do Sul) e minha mãe, filha de
libaneses, mas já nascida em Pirajuí. Eu e meus irmãos não temos o “El”, mas outros da
família têm. Meus pais não quiseram ensinar a língua árabe para os filhos, talvez para que
houvesse uma melhor integração nossa na sociedade que, em Pirajuí, era bastante
diversificada, com pessoas de todas as partes do Mundo (um erro da parte deles, que
utilizavam o Árabe como língua secreta que, quando ouvíamos, ficávamos pescando uma ou
outra palavra que conhecíamos: ‘criança’, ‘dinheiro’, ‘vou sair’, ‘não fale isso diante dos
meninos’, ‘olhe’ etc. Palavrões eram impensáveis em minha casa, mas esses, aprendemos do
árabe, rapidamente). O domínio do Árabe teria aberto todo um universo para nós: literatura,
ciência etc. Mesmo assim, cheguei a aprender alguma coisa, por curiosidade e, às vezes, por
necessidade. Aprendi desde cedo a ter orgulho de minhas origens árabes, sem esquecer a parte
fenícia, que os libaneses reivindicam, e com razão. Comidas árabes compareciam com
frequência em nossa mesa – minha avó e minha mãe cozinhavam divinamente (minha avó
sabia tudo dessa culinária) e eu mesmo aprendi a fazer muitas daquelas comidas – a culinária
árabe-libanesa é uma das melhores do Planeta. Em minha atividade artística, acho que o fato
de descender de libaneses pouco ou nada me influenciou. Na casa de meus avós maternos (os
paternos nunca vieram para o Brasil) não havia lugar para a Arte, tanto que os talentos para o
canto (dois dos irmãos de minha mãe tinham vozes poderosas e ela mesma, quando cantava,
era afinadíssima e somente o fazia se estivesse triste), naquela casa, foram podados desde
cedo. Ouvíamos, além das canções populares brasileiras e de fora (também música erudita),
muita música árabe. Amei a Arte desde cedo, mas era fora de casa que absorvia o repertório e
que tinha com quem conversar, apesar dos refinamentos de meu pai. O Oriente Médio é de
uma complexidade estonteante – o sofrimento de nossos primos é de se lastimar e parece que
o deus Ares deitou suas raízes por lá (o Líbano sofreu muito com guerras, em muitas épocas –
perdemos muitos membros da família por isto e esta foi a causa de meu avó materno, Rachid
Cury, ter vindo ao Brasil, praticamente obrigado pela mãe, temerosa de perder o último filho
homem sobrevivente). Os próprios árabes não se entendem: a Arábia Saudita, por exemplo,
deixou que os EUA destruíssem o Iraque e todos deixam que a incompetente Rússia de Putin
financie o aniquilamento da Síria. Veja: o Líbano teve de passar por uma reconstrução
recentemente. Os palestinos, não fora o desastre sírio, seriam dos povos mais sofridos do
Mundo nas últimas décadas e deverão ter o seu território como país autônomo… deverá haver
concessões tanto de árabes como de israelenses (um fenômeno interessante que se observa: a
população árabe-muçulmana, em Israel, cresce numa velocidade bem maior que a de judeus,
propriamente, daí a chamada de judeus do mundo inteiro para o país). Esses descendentes de
Abraão, não se bicam, não é mesmo? Assim como árabes cristãos e muçulmanos. Os
Humanos são muito complicados. Agora, quanto aos refugiados, acho que o Brasil deva
recebê-los de braços abertos.
9) Uma imprudência.
De minha parte? O uso da ironia, mesmo sutil, com pessoas com repertório muito diferente
do meu e que não bem me conheciam, a ponto da coisa gerar incompreensão e até atrito. Ou
mesmo, passar informações de grande complexidade para um público sem, ainda, a suficiente
maturidade intelectual – isto gerou confusão e desapontamento de minha parte. Professor tem
de diluir informações complexas (proceder a uma adequação de repertório) para que se
tornem inteligíveis – à complexidade, dá-se tempo.
10) Pra finalizar fale o que quiser. Deixa seu recado.
Dada a minha idade, já avançada (nasci em junho de 1948) e minha persistência na Arte,
darei um conselho (como sempre, de graça): Se tiver um projeto, uma ideia, lute pela sua
realização, mesmo que apesar de, não espere as (supostas) condições ideais, pois, quando
estas vierem, seus interesses serão outros, o ímpeto arrefeceu, você nada realizará. Execute
seus projetos, concretize suas ideias, mesmo que apesar de. Salem!
São Paulo 7, 8 e 9 de outubro de 2017
A fim de devassar por completo a chamada "cultura alternativa", com todos seus contornos, nuances e profundidade, venho já um bom tempo entrevistando diversos artistas de várias cidades e estilos. Esse blog portanto, visa reunir todo esse trabalho incansável que está em constante mutação e transformação; artistas vão surgindo do vácuo, aumentando o número de entrevistas num processo quase eterno, porém gratificante.
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
terça-feira, 21 de novembro de 2017
AS CORES DA ARTISTA VISUAL MARIA DO CARMO
Por: Diego El Khouri
Conheci a artista visual Maria do Carmo nas minhas andanças pela cidade de Goiânia (GO).
Ela é membro da AGAV (Associação Goiana de Artes Visuais) e tenho a honra de apresentar nesse blog esse bate papo cultural com essa autêntica artista.
Conheci a artista visual Maria do Carmo nas minhas andanças pela cidade de Goiânia (GO).
Ela é membro da AGAV (Associação Goiana de Artes Visuais) e tenho a honra de apresentar nesse blog esse bate papo cultural com essa autêntica artista.
1) o que te motivou
a começar a pintar, influências e o que mudou de lá pra cá?
Eu procurei várias telas para comprar para
minha casa e não identificava com nenhuma pintura. Assim resolvi eu mesma
produzir essas telas, pois elas estavam na minha cabeça e eu não encontrava
nada parecido. As pessoas iam me visitar e gostavam das telas querendo comprá-las,
com tanta insistência resolvi vendê-las. E logo em seguida estava vendendo para
as galerias de arte de Goiânia, Brasília e Campo Grande.
No início estudei e utilizei em meu
trabalho, a técnica de óleo sobre tela, mais tarde, também a aplicação de
outros materiais como: textura, folha de ouro, sacos e linhagem, cascas de
bananeira e reaproveitamento de pedaços de madeira que submetia a tratamento
especial. Pintava figurativo e abstrato, aos poucos fui abandonando o figurativo
e hoje todo o meu trabalho está voltado para o abstrato. Tenho procurado
preservar a simplicidade e o prazer lúdico que eu cultivava em minhas primeiras
telas. Atualmente não utilizo apenas tinta a óleo, trabalho com a acrílica e a
mistura das duas também, sem a preocupação do resultado. Mas procuro
transformar um material frio em uma obra harmoniosa e ao mesmo tempo de
apaixonante beleza
2) Qual a
importância que as artes plásticas tem em sua vida?
É um ato de
liberdade, porque a minha arte é sem compromisso com o real ou forma. É a
ausência de pensamento, de direção ou estilo. Pinto exclusivamente pra mim,
para satisfazer o meu eu, em cores e texturas. Se outras pessoas se identificarem
ótimo (porque assim realizo uma venda), mas se não gostarem tudo bem, porque
ela não foi idealizada pra isso, mas para ser sentida, tocada e até mesmo levar
a pessoa ao encontro com ela mesma. Esse encontro que me refiro são de energias,
se a pessoa olhar e de alguma forma tocar o seu íntimo pra mim ela cumpriu a
sua função. A arte não pode passar despercebida, e isso eu sei que não vai
acontecer com todos as pessoas que vão apreciá-las. Mas que faça o bem e de
alguma forma possa trazer energias boas para o expectador.
3) Fale sobre o
projeto Poesia pintada para criança.
O
projeto Poesia pintada é uma oficina que será ministrada para os educandos da
Secretaria Municipal de Educação que
propiciará a criança a desenvolver o gosto pela poesia através das oficinas que
irá trabalhar a criação espontânea dessa poesia e representação com a pintura.
Levar a criança ter o contato com a literatura e desenvolver paralelamente a
pintura. Esse trabalho irá despertar seu
potencial para as artes e ao mesmo tempo proporcionar uma nova leitura de vida
levando a criança não só o ato de apreciar a arte de uma maneira global, mas
também de soltar as suas habilidades nas artes como literatura e artes
plásticas. Apresentar poesias e pinturas para
que tenham um conhecimento prévio e desenvolver a arte nata descobrindo
talentos tanto para a poesia como para a pintura de sua criação própria e não
releitura ou cópias das obras já existentes. Estimulando a criatividade e
respeitando cada estilo e diferenciações na exposição dos trabalhos elaborados.
No final das oficinas será confeccionado um
livro de tecido, com imagens pintadas a mão e poemadas, com o intuito de
que ele possa manusear o livro de pano num toque macio e aconchegante de forma
familiar e afetiva.
4) E o projeto Eu
sou assim, para adultos, aqueles que pararam de estudar?
O projeto Eu sou assim... destina-se as
pessoas que estudam a noite no programa EAJA e que de alguma maneira ficaram
excluídos da educação regular e que em muitos casos apresentam baixa estima e
sem estímulo para começar ou recomeçar os estudos. É uma maneira deles sentirem
que as oportunidades ainda estão a sua frente, precisando de um incentivo para
que possam continuar os estudos sem que o abandonem novamente. É um reconhecimento das suas dificuldades,
mas também dos seus pontos positivos, nos quais todos nós nos encaixamos nesse
contexto.
Nesse projeto o educando lida com seus
limites, suas deficiências físicas e psicológicas, que ele possa sentir que
ainda tem chance para ele não só a nível pessoal como profissional, ou mesmo
apenas para sua realização pessoal. O primeiro passo será a sua observação
diante do desconhecido e a sua percepção de um assunto que não faz parte do seu
cotidiano, mas que esse trabalho levará através da sensibilidade atingir ele
mesmo, exteriorizando por médio da pintura a sua própria leitura.
5) De que forma
você enxerga a cena cultural de Goiânia nos dias atuais?
Nesse
momento considero que Goiânia teve um avanço e mais abertura no campo das artes
em todos os sentidos. Houve um incentivo
da Cultura por parte das leis municipais e estaduais e também por uma mudança
de comportamento da sociedade que tem participado mais dos eventos artísticos e
exposições. Esta apreciação é acessível para qualquer nível social, pois você
tem acesso as galerias e as oficinas ministradas pelos expositores.
6) Você é membro da
AGAV (Associação Goiana de Artes Visuais). Nos fale dessa associação e qual
papel desempenha no estado de Goiás.
Faço parte da AGAV Associação Goiana
das Artes Visuais, que é uma associação cultural de direito privado que engloba
artistas da pintura, desenho, gravura, fotografia e escultura. A AGAV tem uma
participação ativa também juntamente com a Secretaria Municipal da Cultura
desenvolvendo em parceria com vários projetos para a comunidade. É uma associação precursora dentro das artes
e que outras associações e pessoas
podem desenvolver novos projetos nesse
campo com o intuito de beneficiar as
pessoas do nosso estado.
Essa associação tem como presidente
Nonatto Coelho que é um artista renomado e conceituado em Goiás. Tem como
objetivo divulgar a arte, promovendo o crescimento pessoal e a valorização do
artista. Além do mais defende os direitos dos artistas junto às
autoridades e estimula os governantes a implementarem mais projetos
culturais. Esses projetos culturais são destinados a levar a arte para a
sociedade como o que está acontecendo agora o Arte nos Parques, com material
gratuito e oficineiros ministrando aulas em 5 parques de Goiânia com a
participação de pessoas acima de 10 anos.
7) Livro de
cabeceira.
Evangelho
Segundo o Espiritismo e obras de estudo pelo espírito de André Luiz
8) O que anda lendo
ultimamente?
O último foi
A Mulher do Oficial Nazista de Edith Hahn Beer e Susan Dworkin coautora e na
linha espírita o livro Sob as Cinzas do Tempo de Carlos A. Bacelli / Inácio
Ferreira.
9) Uma frase
“O amor é
uma força que transforma o destino”. Chico Xavier
10) Próximos
passos.
Estão aprovados esses dois projetos Eu sou
assim e Poesia pintada que serão executados nas escolas Municipais de Goiânia
nesses próximos 180 dias e uma exposição individual, Harmonia em Cores que será realizada aqui em
Goiânia e Inhumas. Ainda não tem definição do local e a data da exposição.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
THINA CURTIS, A SENHORITA ZINE
Por: Diego El Khouri
Tive o primeiro contato com o trabalho da Thina Curtis por volta de 2009 através do seu zine Spell Work. Em 2011 tive a oportunidade de entrevistá-la em e tal material se encontra nesse link http://fetozine.blogspot.com.br/2011/08/thina-curtis-e-sua-arte.html. Abaixo mais um bate papo com essa grande figura do underground brasileiro:
2) Você promoveu oficinas de fanzine na Febem e em presídio feminino em São Paulo. Nos conte essa experiência e qual a força da cultura alternativa na reintegração do presidiário à sociedade?
Tive o primeiro contato com o trabalho da Thina Curtis por volta de 2009 através do seu zine Spell Work. Em 2011 tive a oportunidade de entrevistá-la em e tal material se encontra nesse link http://fetozine.blogspot.com.br/2011/08/thina-curtis-e-sua-arte.html. Abaixo mais um bate papo com essa grande figura do underground brasileiro:
1) Você começou com a Fanzinada em 2011. Evento que celebra o fanzine e que viajou para vários lugares do Brasil. O que mudou de lá pra cá? Quais as diferenças mais visíveis na produção de cultura alternativa no país?
As pessoas voltaram a olhar para os Fanzines, outras a conhecerem e a produzir.Com certeza a qualidade e a estética visual. x
Hoje temos muitas feiras, eventos direcionados a zines e publicações independentes, Livros sobre Fanzines.
2) Você promoveu oficinas de fanzine na Febem e em presídio feminino em São Paulo. Nos conte essa experiência e qual a força da cultura alternativa na reintegração do presidiário à sociedade?
Uma experiência bem marcante e de transformação na minha vida.
O preconceito das pessoas em relação a mim por estar nesse tipo de instituição também fica associado a uma pessoa marginalizada e literalmente subversiva, ou seja, que tipo de professora e mulher é essa que vai dar aulas para bandidos. Trabalhei com meninos e meninas, mulheres. porém, ter trabalhado com jovens grávidas e com bebês foi algo que mudou e tocou algo dentro de mim.Só tendo esse tipo de experiência você nota o quanto nossa sociedade e injusta, preconceituosa, machista, racista e homofóbica.Através dos Fanzines essas crianças-mães tiveram seu primeiro contato de afeto, direitos, cidadania, empoderamento.
Por meio de simples recortes e diálogos entenderam um pouco mais sobre-viver a vida, e que existe possibilidades fora do crime e drogas.Com uma linguagem de fácil entendimento que não intimida o autor eles tiveram também o primeiro contato com arte, cultura e principalmente aprenderam a gostar de ler. Viram-se pela primeira vez capazes de pensar, se sentiram gente.
Por meio de simples recortes e diálogos entenderam um pouco mais sobre-viver a vida, e que existe possibilidades fora do crime e drogas.Com uma linguagem de fácil entendimento que não intimida o autor eles tiveram também o primeiro contato com arte, cultura e principalmente aprenderam a gostar de ler. Viram-se pela primeira vez capazes de pensar, se sentiram gente.
3) Você diz que acredita em "arte engajada, na arte militante, na arte sentida, na arte vivida". Pra uns arte liberta, pra outros aprisiona. Vivemos em um momento de propagandas declaradas contra os artistas e qualquer pensamento libertador. O que fazer no meio de todo esse caos?
A arte em si e uma provocação de sentimentos, eu faço parte de uma geração marcada pelas lutas e engajamento ideológico vividos na ditadura, venho de uma época que discos era proibidos por conter conteúdo improprio, ou seja, falar das condições politicas de um pais em ditadura, hoje todos falam o que querem abertamente, mais ninguém se escuta e se respeita, as pessoas reproduzem o que escutam e textos que nem leem ou entendem, em nome da moral e bons costumes, como será que Shakespeare foi visto quando naquela época fez seus textos anárquicos, Dostoiévski, Michelangelo, Caravaggio, ou um quadro clássico como o Nascimento de Vênus entre tantos outros pintores, sem falar dos poetas, músicos, escultores e outras formas de arte.
4) Como anda as mulheres na fomentação e produção de cultura alternativa? Quais nomes poderia indicar?
As mulheres como sempre estão fazendo tudo ao mesmo tempo, na cultura independente mais ainda! São tantas, Ana Paula Francotti, Aline Ebert, Julia Leonel, Ca Clandestina, Simone Siss, Amanda Doria, Titi Carnelos, Bethania Mariano, Jessica Balbino,Ligia Regina Lima,Ivone Landim,entre milhares de outras...
5) Poesia.
5) Poesia.
Alice Ruiz(sempre),Jurema Barreto, Dalila Teles, Rosana Banharoli, Janaina Moitinho
6) HQ.
Fabi Menassi, Aline Daka, Germana Viana
7) Música.
Ratas Rabiosas, Corujas de Gothan, Odisseia das Flores, Camila Fernandes (Wonder Dark)
8) Epitáfio.
8) Epitáfio.
A arte para mim e abrigo, apoio, vida e esperança.
9) Você, como arte educadora, com que olhos observa o momento atual que o Brasil está passando e de que forma influência nossa relação com as artes?
Creio que respondi um pouco dessa questão na terceira pergunta, porém nesse momento de crises atrás de crises, da arte ensinada nas escolas públicas não ser considerada uma disciplina, somente uma diversão é algo que somente é vista em supostas datas comemorativas para decorar escolas e salas, sabemos que a arte vai muito além disso, a arte é uma síntese dessas ambiguidades, a arte permite mergulhar em reflexões sobre a condição humana, olhar ao entorno e o que a sociedade impõe.
10)Por que ainda produzir, estudar e falar sobre Fanzines?
Fazer Fanzine não necessita de regras de estruturação para se fazer compreender e isso é mágico!
Qualquer pessoa pode produzir um Fanzine.
Temos muito ainda que se discutir e comentar, temos muito ainda para apropriar quando o assunto e fanzine.
"O pai das redes sociais” ainda tem um elemento diferenciado, a criatividade, o desejo de se fazer algo por experimentação sem seguir padrões, estéticas e justamente isso que fazem dos fanzines únicos.
Fanzines são essência.
Esse artefato simples que contem um cunho forte na educação, na arte e no conhecimento ainda tem muito a ser pesquisado e falado.
Pra mim é necessidade, faz parte de mim.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
A POESIA NA VIDA DA ESCRITORA MARISA VIEIRA
Por: Diego El Khouri
*Conheci a poetisa Marisa Vieira em 2013 nos saraus do Rio de Janeiro. Na época estava morando lá e nos apresentamos diversas vezes nos mesmos eventos. Mais uma grande alma que entrevistei.
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Quando
morava em Brasília, meus poemas não saiam das “gavetas, cadernos” e nem
mostrava para ninguém,poucos sabiam que eu escrevia, na verdade, nem eu sabia
hehe Então lá, no DF não tenho como falar sobre o circuito poético da minha
época, atualmente sei que acontece um movimento forte por lá, poetas ativos
como Marina Mara, Noélia Ribeiro…
*Conheci a poetisa Marisa Vieira em 2013 nos saraus do Rio de Janeiro. Na época estava morando lá e nos apresentamos diversas vezes nos mesmos eventos. Mais uma grande alma que entrevistei.
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1) Você transita muito bem entre Brasília (sua terra natal) e Rio de Janeiro (cidade onde mora atualmente). Quais as diferenças mais gritantes, dentro da poesia, nesses dois lugares e como foi seu início nessa "arte de lapidar palavras"?
Quando
morava em Brasília, meus poemas não saiam das “gavetas, cadernos” e nem
mostrava para ninguém, poucos sabiam que eu escrevia, na verdade, nem eu sabia
hehe Então lá, no DF não tenho como falar sobre o circuito poético da minha
época, atualmente sei que acontece um movimento forte por lá, poetas ativos
como Marina Mara, Noélia Ribeiro…
Aqui no
Rio, moro na Barra da Tijuca e costumo dizer que moro em “BarraSília” (com
sotaque do Alberto Roberto) porque a Barra é igual, em minha opinião…
Meu
início? Não recordo bem... cedo, dos 08 anos até uns 13 ou 14, morei com uma
outra família, que não era a minha, mas era e minha segunda mãezinha, Dona
Carminha, sempre recitava poemas em datas comemorativas, natal,
aniversários, talvez tenha sido daí, mas não me recordo tão bem e nunca aprendi
a lapidar palavras.
2) O que
acha da poesia contemporânea? Quais nomes destacaria?
Em
ebulição, muita gente boa, boa mesmo.
Tantos
nomes a destacar…nossa‼! ARNALDO ANTUNES, assim mesmo em caixa alta.
Líria
Porto, Luis Turiba, Tavinho paes, Chacal, Eduardo Tornaghi…amigos próximos como
a Marina Mara que citei acima, é incrível, uma poeta que o Brasil precisa
conhecer. Manoel Herculano, um poeta maranhense que tive o prazer de conhecer
no Rio de Janeiro.
3) Você é
frequentadora assídua de saraus de poesia no Rio de Janeiro como, por
exemplo, o Pelada Poética, evento criado e organizado pelo ator Eduardo
Tornaghi (que ocorre toda quarta feira na praia do Leme), Ratos Di Versos
(um sarau bem conhecido na Lapa) e João do Corujão, sarau cujo padrinho é Jorge
Ben Jor e que acontece nas terças feiras de todo mês. Como se dá o
diálogo com outros poetas e de que forma tais eventos influenciam no seu
trabalho artístico?
Hoje não
sou tão assídua assim, mas foi aqui no Rio, especialmente no movimento Corujão
da Poesia que conheci poetas e fiz amigos para a vida toda, digo que sou Marisa AC/DC
(antes de depois do Corujão). Papo longo que não dá seguir aqui…
Os
eventos de poesia não influenciam no meu trabalho, o Corujão sim, teve um papel
importante, por me apresentar a vários poetas e foi através do corujão que
conheci os demais eventos. Amo o Pelada Poética, o Mano a Mano com a Poesia, do
Mano Melo, Sarau do Mello, do ator e poeta Marcello Melo, eventos que o Tavinho
Paes sempre organiza e são sempre uma grande festa e surpresa, um dos melhores
que acontecem no Rio do Janeiro. Dialogo bem com todos que conheço.
4) Você
pensa no público quando escreve um poema?
Não penso.
5) Você
acha que poesia atrai um público restrito? O que fazer para as
comunidades carentes terem acesso à cultura?
Sim. Fiz
durante um ano parte da coordenação artística de um sarau chamado OPA!
Ocupações Poéticas que acontecia todos os sábado no Monumento a Estácio de Sá
(Aterro do Flamengo) e esse evento era muito especial, pois através do Dra.
Thelma Fraga, era voltado para as comunidades carentes, levávamos sempre um
grupo, como Cidades De Deus, Caju, entre outros…infelizmente após a partida
rápida da Thelma, não prosseguimos com a OPA! Mas ainda sonho e tenho vontade
de voltar a fazer algo do tipo, pois o que precisa para as comunidades terem
acesso à cultura ir até elas e mostrar que as mesmas podem e podem muito.
6) Além
de poemas, costuma escrever em outros segmentos literários?
Não. E
sou mais "frasista" do que poeta. Se bem que existe poeta de um verso só...
7)
Livro (s) de cabeceira.
Atualmente
a Bíblia, Cem anos de Solidão e muitas matérias e artigos sobre marketing
(finalizando a faculdade ufa‼!)
8) Uma
lembrança inesquecível.
Bem
falando de poesia, uma lembrança inesquecível foi o nascimento da OPA! No dia
da ocupação do exército no Complexo do Alemão, passamos um dia inteiro falando
poemas, ouvindo os moradores, mães, crianças, foi um dia rico, com muitos
músicos, atores e poetas do Rio de Janeiro disponíveis para arte.
9) Uma
poesia de sua autoria.
Negra Vieira
Sou mar
sou terra
sou ar
da atmosfera
sou rara
sou fogo
cara a cara
abro o jogo
poeta
riso franco
negra
em terra de branco
sou terra
sou ar
da atmosfera
sou rara
sou fogo
cara a cara
abro o jogo
poeta
riso franco
negra
em terra de branco
10) Uma
frase pra finalizar.
Vou
deixar duas e você escolhe:
Salvou-se,
era a rima da família!
Desde o
princípio, mesmo sem verba, nunca deixou de crer no verbo.
Marisa Vieira
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